O que aprendi sobre diversidade em Portugal e na Índia

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Portugal é um país com 10 milhões de habitantes; a Índia tem 1 bilhão de habitantes, é o segundo país mais populoso do mundo. Mas os desafios seguem os mesmos

No Brasil, atendendo a linha de especialistas nacionais e internacionais, o conceito de diversidade está na representação da demografia da sociedade brasileira dentro das empresas. Então, se na sociedade brasileira temos 54% de negros, 52% de mulheres, 7% de pessoas com deficiência e cerca de 10% de LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e todas as ramificações de orientação sexual e identidade de gênero), de acordo com dados do IBGE, isso deveria estar refletido nas empresas em todos os níveis.

Claro que falar de diversidade nas empresas é muito mais amplo e profundo. A diversidade hoje deve refletir religiões, diversidade etária, peso corporal (gordofobia), origem regional, entre outros.

Lembrando que para além de falar e contemplar a diversidade nos quadros funcionais, é preciso fazer efetivamente a inclusão desses profissionais. Eles devem se sentir bem-vindos para contribuir e entregar todo o seu potencial, e enfim atingir seus objetivos.

Bem, foi a partir desse entendimento de base e da minha história de vida que rumei em novembro de 2018 para Portugal para fazer a abertura do Fórum Nacional de Diversidade naquele país. E mais recentemente palestrei do 3º Congresso Mundial de Diversidade e Inclusão, na Índia. Os eventos reuniram profissionais das mais variadas partes do mundo.

Considero como duas experiências bastante complexas quando se trata do tema diversidade. Portugal é um país com 10 milhões de habitantes que faz parte da União Europeia. A Índia tem 1 bilhão de habitantes está situada na Ásia Meridional, e é o segundo país mais populoso do mundo. Viagens em contextos culturais, políticos, sociais e econômicos de sociedade totalmente distintos e totalmente desafiadores.

Portugal foi o 16º país a assinar a Carta de Diversidade, iniciativa da União Europeia – , documento assinado de forma voluntária que propõe avanços estratégicos coordenados com os agentes público, privado e sem fins lucrativos. A estratégia de diversidade é nacional, provavelmente uma das vantagens de ser um país pouco populoso e de pequena dimensão territorial.

O que mais me chamou atenção em Portugal foi o fato de que os demais países europeus presentes ao evento (Estônia, Luxemburgo e Polônia) pautaram com muita articulação e ênfase a questão da igualdade de gênero, o direito da mulher e os avanços que garantem mulheres em posições de tomada de decisão e alto nível hierárquico dentro das empresas.

Mas, no entanto, pouco mencionaram questões cruciais, que me pareceram ser “delicadas” naquele cenário, como raça/etnia, refugiados, LGBTI+, entre outros. Eu era a única negra presente e havia somente uma pessoa com deficiência, cadeirante. Neste sentido, para mim a representatividade foi quase nula.

Outra particularidade que me marcou foi uma certa desconexão por parte dos participantes em relação ao período de colonização e escravatura no Brasil, afinal por ser um evento de diversidade e por ser a única brasileira achei por bem basear minha apresentação em nossa história. A impressão que tive foi que a plateia não sabia de nosso histórico escravocrata. E a surpresa foi geral quando compartilhei o legado de desigualdade racial que vivemos até hoje. Fruto dessa história!

Já quando recebi o convite para participar do evento na Índia, o meu primeiro desafio foi lidar com as lembranças de notícias sobre violência contra a mulher daquele país. Além da memória de que sé em 2018 o país descriminalizou a homossexualidade e por fim, que historicamente tem uma estruturação social pautada no tom da pele dos indivíduos.  Isso em si já torna a experiência diferente, pois – mesmo sendo fã notória de Gandhi, Madre Teresa de Calcutá e Yunus – a preocupação veio antes mesmo da celebração do convite.

Bem, questões de segurança equacionadas parti para a Índia. Um país onde notoriamente há uma expressiva desigualdade de gênero, de diversidade sexual, entre outros. No entanto, o Congresso em si foi uma grata surpresa. Em paralelo estava acontecendo um Congresso de Gênero focado em mulheres, em que pude conhecer diversas indianas com uma fala empoderada, firme e sedenta de mudanças na estrutura social.

Também no congresso havia pessoas com deficiência motora e paralisia palestrando com primazia. E a minha maior surpresa foi ver uma plenária focada na temática LGBTI+ com homens gays, mulheres lésbicas e mulheres trans, falando sobre a luta por equidade e a busca por uma sociedade na qual possam ter mais segurança.

Além disso, havia palestrantes negros e negras, de países africanos, debatendo a realidade dessa população na sociedade atual. E durante minha participação contei novamente as histórias do Brasil. Ao final do evento ainda tive a grande honra e alegria de ser premiada como uma das “101 lideranças globais de diversidade e inclusão” pelos avanços que tenho realizado no Brasil.

Bem o que aprendi sobre diversidade nestas viagens? Aprendi que os desafios são os mesmos. Em todo o mundo mulheres, negros, LGBTI+, Pessoas com deficiência estão lutado pelo direto a uma vida social e profissional mais igualitária. Aprendi que por mais que alguns países estejam avançados em determinados temas, ninguém ainda está dando conta do todo que contempla o tema diversidade ou de todos os desafios com primazia.

Aprendi que como especialista, mas também como agente desse tema pelos meus marcadores identitários, sempre viverei na pele o estágio de diversidade do país onde estiver. Mas aprendi acima de tudo, que a diversidade é um caminho sem volta. Em todas as partes do mundo, grupos que foram minorizados ao longo da história despertaram. Estão clamando por igualdade e não retroceder. Só há um caminho possível e é para frente.

Enfim, a diversidade é o futuro do mundo e as empresas e sociedades que não perceberem isso a tempo, poderão ficar para trás na história da humanidade.

*Liliane Rocha CEO e Fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade e autora do livro Como ser um líder Inclusivo

 

Época Negócios


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