Morte em Buenos Aires – um filme aparentemente policial que traz uma boa história de paixão

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Por Mauricio Amorim

“A narrativa do filme começa exatamente quando um gay da alta sociedade argentina é assassinado”

Adoro Buenos Aires. Para mim, uma das cidades mais bonitas da América do Sul. Aprazível, elegante e muito charmosa, respirável (apesar da grande quantidade de fumantes, nas ruas), com cada cafeteria que deixa um viciado em cafeína, como eu, extasiado. E belos argentinos e belas argentinas em cada esquina.

Para completar, um país – A Argentina – que, a cada ano que passa, vem oferecendo à população mundial um leque de opções cinematográficas diversas. Opções que vão da comédia ao drama, passando prazerosamente e competentemente pelo suspense e pelo policial.

Exemplos? Que tal O Filho da Noiva (ainda lá no início dos anos 2000), ou o ótimo Medianeras, de 2011, passando pelo merecidamente premiado (inclusive, com o Oscar) O Segredo dos Seus Olhos e o excepcional Relatos Selvagens?

Sim! Os citados acima todos filmes argentinos e de uma grandeza cinematográfica indiscutível.

E aí, então, eu trago para discorrer sobre o não tão excelente assim Morte em Buenos Aires, lançado em 2014 e dirigido por Natalia Meta, um filme cuja sinopse diz tratar-se de um filme policial, que traz um inspetor veterano, trabalhando ao lado de um jovem e novato policial, ambos com a missão de descobrir o assassino que vem matando vários gays em Buenos Aires, na década de 80.

A narrativa do filme começa exatamente quando um gay da alta sociedade argentina é assassinado. Contudo, a partir do momento em que nós, espectadores, percebemos que estamos muito mais interessados na relação de amor (Ou paixão? Ou só desejo? Ou amor, paixão, desejo?) que surge entre o policial veterano – que se chama Chávez – e o novato – Gómez, apelidado de Ganso –, é que Morte em Buenos Aires se torna um filme verdadeiramente interessante de se ver.

São as nuances que há entre a homossexualidade e a heterossexualidade – bem mais do que a linha investigativa adotada pelos policias responsáveis pelo caso – que faz com que esse filme argentina seja merecedor de ser conhecido e visto. Pois, até onde podemos perceber, Chávez é heterossexual. Inclusive, é (aparentemente mal) casado e pai de um garotinho que tem problemas com insônia. O mesmo pode ser afirmado sobre Gómez que, num dos momentos do clímax narrativo, casa-se com uma mulher. Dois homens que parecem ser heterossexuais, mas que se deixam, sem grandes hesitações, envolver pelo universo gay.

E esse cenário queer dos anos 80, diga-se de passagem, é muito bem apresentado pela direção e pela direção de arte, fato que faz com que nos lembremos, quase que imediatamente, do clássico americano Parceiros da Noite, com Al Pacino.

Os dois atores responsáveis pelos personagens protagonistas estão bem à vontade nos seus respectivos papéis. Entretanto, uma necessária observação deve ser feita quanto à atuação de Chino Darín, que faz o jovem Gómez.

Chino é filho do também ator argentino Ricardo Darín, dos já citados O Filho de Noiva e O Segredo dos Seus OlhosMorte em Buenos Aires foi o seu segundo, terceiro filme e ele consegue, com maestria, nessa obra, passar para todos os outros personagens, assim como para nós, espectadores, toda uma dubiedade e sensualidade: Gómez é atraente, sabe ser sedutor e usar essa sedução a seu favor, e nos manipula, assim como manipula seus colegas de profissão e Kevin, um personagem de grande importância na história.

Morte em Buenos Aires

Morte em Buenos Aires

Outro ponto que vale ser destacado são as músicas tocadas no filme. Quase todas as músicas são cantadas por Carlos Casella que, na história, interpreta Kevin, um suspeito de ser o assassino dos gays. São músicas românticas, até mesmo mais dramáticas do que propriamente românticas, e o meu grande destaque vai para a belíssima Qué Hago en Manila? que toca em vários momentos do filme, em especial, em duas belíssimas sequencias: Chávez e Gómez, dentro do carro, enquanto chove, e Chávez pondo seu filho sobre a cama, para dormir.

Mas… Morte em Buenos Aires traz falhas. Algumas presentes no roteiro, como o fato de nunca ficar claro se, de fato, Chávez era um gay enrustido, casado com uma mulher, que escondia seus desejos por homens e Gómez foi sua primeira paixão, ou se ele, Chávez, sempre teve consciência da sua homossexualidade.

Porém, por mais que o roteiro, em alguns momentos, traga problemas, devo afirmar que três pontos que comumente interessam e atraem o público estão presentes e muito bem desenvolvidos nesse filme de Natalia Meta: o sexo, o desejo e a morte. Daí o subtítulo desse texto: Morte em Buenos Aires é, a princípio, um filme do gênero policial, foi (é) vendido como tal. Contudo, a relação entre esses três pontos citados, pontos esses relacionados ao amor e à paixão e ao (não tão grande) abismo que há entre a homossexualidade e a heterossexualidade faz, de Morte em Buenos Aires, mais um bom e digno exemplo do atual cinema argentino.

 

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