Morte de Matheusa, universitária gay assassinada no Rio, representa a perda de mais uma militante

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Thamires Tancredi Postado por Thamires Tancredi

No ano passado, 445 pessoas foram mortas em crimes motivados por homofobia, aponta um levantamento do Grupo Gay da Bahia. Isso quer dizer que, a cada 19 horas, uma pessoa gay, lésbica, bissexual, travesti, transexual ou não binária tem sua vida ceifada por simplesmente existir. Assusta ainda mais pensar que, em 2017, esses números aumentaram 30% em relação a 2016 – e o índice só cresce, ano a ano. Mais: quando se fala especificamente da população trans, talvez uma das mais marginalizadas no nosso país, os índices apontam que, no ano passado, 179 delas foram assassinadas. Uma morte a cada 48 horas – e, em 94% dos casos, de mulheres trans. Se pensarmos no contexto de ódio e intolerância em que estamos mergulhados, quase não dá para se surpreender. Quase.

A maioria dos casos não vem à tona, infelizmente. Mas foi diferente com a estudante Matheus Passareli Simões Vieira, a Matheusa. Theusinha, para os amigos. Matheusa estava desaparecida havia uma semana no Rio de Janeiro. Saíra de uma festa em que foi trabalhar, no Encantado, zona norte da capital carioca, e, segundo a polícia, foi executada por bandidos no Morro do 18. Até a hora em que escrevi este texto, as últimas informações afirmavam que o corpo de Theusinha provavelmente tenha sido queimado. As investigações ainda são inconclusivas, mas os relatos dão conta que ela teria chegado na entrada da comunidade confusa, falando frases desconexas. Depois, teria sido levada ao tribunal dos traficantes para explicar o porquê de estar naquele lugar. Provavelmente pelo seu estado de confusão, não conseguiu se fazer entender. E foi morta ali, sem qualquer justificativa, como explicou a delegada Ellen Souto.

Theusinha era a primeira universitária de sua família: estudava Artes na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, onde era bolsista. Estava sempre circulando nos mais diversos rolês das artes do Rio, incluindo a turma da moda. Desfilou, inclusive, para o estilista Fernando Cozendey na última edição da Casa de Criadores. Também estava envolvida com o projeto Jacaré Moda, iniciativa que capacita jovens que moram na periferia para atuar em diversas áreas da moda. Theusinha era não binária, ou seja, não se identificava nem com o gênero feminino, nem com o masculino. Theusinha tinha apenas 21 anos.

Você provavelmente não conheceu Theusinha – eu também não. Soube do trabalho (e da morte) dela quando estava chegando no trabalho ontem, e deparei com o post angustiante da irmã de Matheusa na minha timeline, anunciando sua morte precoce. Assim como Marielle Franco, vereadora assassinada também no Rio de Janeiro há menos dois meses, a morte de Theusinha significa a perda de mais uma guerreira. É a vida de mais uma pessoa LGBTQI+ sendo ceifada. De mais uma afeminada, periférica, não binária. Que viveu de forma livre e autêntica, sendo quem ela bem queria ser. Que lutou por mais igualdade e respeito num país em que a tolerância parece ter cada vez menos vez. Theusinha pedia por mais diversidade e liberdade, e não duvido que possa ter sido morta justamente por ser a representação viva do que mais acreditava.

A vida de Theusinha já se foi, mas cabe a nós não deixar que suas ideias de liberdade morram. Cabe a nós cobrar justiça por Theusinha. Respeito a todos que, assim como ela, sofrem por ousarem ser quem querem. E um mínimo de empatia, aquele sentimento que faz com que a gente se coloque no lugar do outro. “Se tiver que existir a dicotomia entre o amor e o ódio, eu escolho amor”, escrevia Theusinha. E nenhuma escolha parece ser tão urgente.

 

http://revistadonna.clicrbs.com.br/umplusamais/2018/05/08/morte-de-matheusa/


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