Além do arco-íris: quem vai buscar os 250 mil votos LGBTI no DF?

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Decididos a quebrar paradigmas, militantes da causa querem deixar o anonimato e assumir o protagonismo na luta pela igualdade de direitos.

Caio Barbieri

Mesmo como parte expressiva da população do DF, lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros e pessoas intersexuais (LGBTIs) não revertem a força na hora da busca pelo próprio voto. Para se ter ideia, estima-se que de 10% a 12% dos cidadãos do Distrito Federal integrem a comunidade – o equivalente a cerca de 360 mil pessoas. Se a proporção for convertida em eleitores cadastrados no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF), quase 250 mil brasilienses habilitados ao voto compõem o segmento LGBTI no Distrito Federal.

O número significativo não daria para eleger um senador, mas conseguiria, com folga, garantir uma cadeira de deputado federal pelo DF, por exemplo. Mais votado das últimas eleições, o coronel da reserva da Polícia Militar Alberto Fraga (DEM) convenceu 155.056 eleitores (10,66% dos votos válidos) a escolherem ele como candidato à Câmara dos Deputados. O menos votado da bancada distrital, Laerte Bessa (PR), angariou 32.843 votos (2,26%).

Apesar de representarem grande fatia da população politicamente ativa, os LGBTI nunca elegeram, no Distrito Federal, um único mandatário integrante da comunidade e socialmente assumido. Contudo, lembram o trabalho da deputada federal Erika Kokay (PT), militante de direitos humanos no Congresso Nacional, como defensora das causas das chamadas minorias. No DF, reconhecem o esforço do deputado distrital Ricardo Vale (PT) de combater a bancada conservadora na Câmara Legislativa.

No cenário local, no entanto, pode-se dizer que há pouco interesse dos mandatários em levantar a voz em defesa dessa parte da população, seja nas instituições ou mesmo como plataforma de campanha eleitoral.

Desde o último dia 29, o Metrópoles tenta ouvir os pré-candidatos ao Governo do Distrito Federal sobre as propostas de cada um deles direcionadas à comunidade, mas nenhum dos nomes de partidos mais representativos se dispôs a discutir as reivindicações de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.

O silêncio é resultado da força de religiões conservadoras nas eleições, não só no DF, mas também no país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os evangélicos já representam mais de um quarto da população do DF (26,8%), ou seja, mais de 800 mil pessoas – um número considerável, se comparado à população LGBTI. Nesse cenário, o que pesa é a lógica matemática.

Apesar disso, a comunidade acredita que a esperança não está completamente perdida. Ao menos seis nomes levantados pela reportagem pretendem erguer neste ano a bandeira a favor da diversidade. O desafio pode ser considerado legítimo: todos os postulantes são assumidos, ativistas e muito se orgulham de representarem a categoria, caso conquistem o esperado mandato.

Dos nomes levantados pela reportagem, apenas uma pré-candidata decidiu estrear na política como candidata à Câmara dos Deputados. Os demais vão tentar cadeira na Câmara Legislativa. A decisão só será formalizada nas convenções partidárias realizadas até o início de agosto.

A despeito da determinação de enfrentar o teste das urnas, todos foram unânimes em reconhecer a dificuldade. Mesmo assim, miram no convencimento do eleitor da própria comunidade para que conquistem o voto de confiança na defesa das causas LGBTI.

Veja algumas das principais bandeiras dos LGBTIs que pretendem ocupar cargos eletivos:

 

Políticas públicas contra o preconceito 
Entre as pautas mais lembradas, o grupo apontou a luta contra o preconceito e a violência, representatividade e a empregabilidade no DF. “Estamos acompanhando uma sequência de crimes ocorridos no DF como resultado da intolerância, além de um considerável aumento de suicídio e de crescimento do boletim sorológico para casos de HIV. Isso é reflexo da falta de políticas públicas em favor dos LGBTIs”, avalia Michel Platini, conhecido militante da causa e um dos possíveis nomes que o Partido dos Trabalhadores deve lançar ao legislativo local neste ano.

A preocupação é também compartilhada pelo produtor de festas e servidor público Rodrigo Antonello, que prefere ser lembrado apenas pelo sobrenome. Conhecido por assinar o selo da Brave Party e de um time de futebol escalado apenas por integrantes da comunidade, Antonello quer ir além. “A maior carência do público LGBTI é a de elaboração de políticas públicas voltadas para as suas necessidades. Existem muitas poucas leis protegendo os direitos LGBTI”, emenda o pré-candidato do PV à Câmara Legislativa.

Outro tema em pauta é a franca oposição da frente evangélica – que trava um verdadeiro cabo de guerra contra os esperados avanços de direitos aos LGBTI – à comunidade.

Como cresce o fundamentalismo religioso, os discursos de ódio têm um desdobramento, que é a real violência. Cada palavra desses líderes é um gatilho que se aperta contra um gay

Fábio Félix, homossexual assumido e que tentará pela segunda vez disputar uma cadeira na CLDF

Também estimulado a ingressar na corrida por votos, o empresário brasiliense Ricardo Lucas, filiado atualmente ao PCdoB, tem se preocupado com a dificuldade de se apresentar leis as quais beneficiem a comunidade.

“O maior exemplo é a Lei n° 2.615 de 2000 (lei anti-LGBTIfobia), que teve decretos assinados pelos governadores Agnelo Queiroz, em 2013, e na atual gestão de Rollemberg, em 2017, porém vetadas na Câmara Legislativa dias após, cedendo às pressões de bancadas conservadoras. Uma lei fundamental para a população LGBTI do DF e que já tramita há 18 anos sem avanços. O conservadorismo crescente é uma grande ameaça às conquistas de legislação específica”, reclama.

Sócio da boate Victoria Haus, espaço classificado por ele como “espaço de convivência, liberdade e tolerância para uma comunidade, empoderando pessoas e talentos locais”, Lucas defende uma maior consciência política nos eleitores para que haja representatividade nesse cenário.

Nossa democracia ainda está amadurecendo, assim como o nosso movimento. É necessário provocar o pensamento crítico e político na população LGBTI, propagando informações relevantes sobre os nossos direitos, os triunfos recentes e o que podemos conquistar se nos unirmos cada vez mais

Ricardo Lucas, empresário

Ascensão trans
Transexual assumida há 17 anos, Kyara Zaruty conseguiu, há um ano, o direito de mudar nome e gênero no registro civil sem precisar apresentar laudos de uma equipe de saúde nem ter feito a cirurgia de mudança de sexo.

Para ela, o momento não é de defender ideologias políticas. “Não sou de direita ou esquerda: sou brasileira. Levanto a bandeira do ser humano que vê a nossa dificuldade do dia a dia. Também não coloco a população LGBTI como sendo minoria. Nos tacham assim porque somos calados, mas a nossa força é muito grande”, orgulhou-se a pré-candidata ao legislativo local pelo Avante.

A ativista Paula Benett quer ser a primeira trans do gênero feminino a representar o DF no Congresso Nacional. Pré-candidata pelo PSB à Câmara dos Deputados, a secretária eleita do segmento LGBTsocialista, braço da causa no diretório partidário, defende que chegou a hora de a comunidade ocupar um espaço de representatividade dentro dos poderes públicos.

“Só o fato de eu ser pré-candidata já é uma grande vitória. Independentemente do resultado, a gente já ocupou um espaço onde não éramos reconhecidas. Agora, o DF tem uma grande chance de eleger a primeira trans no Congresso Nacional. Vamos trabalhar para isso”, finaliza.

 

 

https://www.metropoles.com

 


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